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Evandro Prado, aquarela, 2013 |
A exposição do
Salão de Arte de Mato Grosso do Sul 2013, apresentada no Museu de Arte Contemporânea de MS (MARCO), coloca em xeque a existência e
representatividade da arte.
O que é arte, o que é a
Arte?
Quem ou o que legitima
algo como arte?
Isso é arte?
O museu está saturado!
Fujam para as montanhas! Foi isso que eu senti quando passei por lá.
Infelizmente.
Contudo, todo o caos
“artístico” ali abrigado me faz refletir e pensar nas indagações feitas acima.
Nem tudo que está lá é ruim, falarei dos bons frutos mais a frente.
Começo com algumas
considerações sobre a obra da artista Priscilla Pessoa intitulada “2113”.
Confesso que sou um apreciador de instalações e intervenções artísticas e a
sala negra do Marco me arrepia artisticamente, porém a intervenção da artista
não me causou nada. Esqueletos humanos em giz escolar branco estampam uma
parede da sala, não posso descartar a qualidade estética dos desenhos e as
insinuações de perspectivas muito bem resolvidas, mas para mim a obra é vaga!
Falta algo, nem mesmo a proposta de intervenção do público consegue preencher
esse vazio, ou pensando de outro modo, essa proposta tenha deixado a obra
vulnerável, pois o que foi desenhado ali pelos visitantes não era o que
representava a expectativa da artista. A obra não convence, é fraca como os
ossos secos dos esqueletos, é frágil como o giz ali usado. Eu tive a ousadia de
atribuir outro título à obra: “A morte da Arte”. Desculpe-me o trocadilho.
Mais uma vez Evandro
Prado aparece com sua temática crítico-religioso, eu já nem diria que é crítico
mais. “Sede Vacante I, II e III”. Mais do mesmo, de novo. Já escrevi sobre
obras do Evandro quando expôs na sala negra nesse mesmo ano, gostei. Mas isso
de novo, não! Não é original, não causa nada, não é de efeito, não funciona.
Evandro, o Papa EMÉRITO Bento XVI já pediu as contas, já se foi, deixe-o em paz
e, por favor, não vá atrás do outro.
Um artista precisa se
renovar, buscar novas indagações, promover sua criatividade, caminhar em
frente. São eles que carregam a arte, se estagnarem a arte pesará sobre seus
ombros e os matará sufocantemente. Artistas, não se matem, muito menos a arte!
Quero falar agora do
que vi de bom, é mais produtivo. Destaco as fotografias
de Marcos Muniz intituladas “Baque Sagrado ou Travessia do Tambor”. São belas
imagens, fortes, a cultura popular é escancarada ali. As fotografias tem um
“quê” de Sebastião Salgado o que é algo muito bom. A linguagem da Fotografia, a
meu ver, pode ser um tanto quanto difícil de ser engolida enquanto arte se
pensarmos hoje nas tecnologias digitais de manipulação de imagens e vídeos e
todos os recursos da fotografia digital que a deixa um pouco distante das outras
linguagens como a pintura e o desenho.
Mas isso já vem sendo modelado há um
tempo graças à grandes fotógrafos que retratavam a realidade e a imaginação
através de suas lentes conduzidas pelo seu olhar.
As fotografias de Marco
Muniz tem uma coloração marrom acinzentado que me trás a veracidade do berço
das culturas populares na vida simples, muitas vezes à beira da pobreza. Os
olhos ali retratados são vivos, pulsantes, mais curiosos do que os de quem as
olham, as marcas das mãos mostram a força do homem simples, do homem de fé, do
homem que produz a bela cultura ali demonstrada. Lindas fotografias, sou capaz
de ouvir a música que sai da sanfona e da viola, tá ouvindo?
Os vídeos de Chico
Santos prenderam minha atenção. Os vídeos arte são recursos muito utilizados na
arte contemporânea e vêm ganhando espaço nos museus como representatividade
artística. Basicamente, intitulados de “Invasão” eles são capazes de invadir,
me invadiram. Os vídeos mostram uma sequência de imagens repetidas de
minúsculas peças em formato de casas e prédios invadindo diferentes espaços. É
uma obra minimalista. Beira a um alerta espaço ambiental da nossa sociedade.
É
a arte enxergando um problema social. É um retrato minimalista de um grande
problema. Eu gostei. É ironicamente engraçado.
Por último quero citar
a obra de Leandra Espírito Santo. “Em busca da Terra do Nunca” é leve e
descontraída. Uma pequena casa flutua pendurada por balões em busca da Terra do
Nunca. São fotografias, porém é possível perceber mentalmente o movimento do
voo da casa pela paisagem. Sinto até a brisa que a leva para longe. Eu achei
visualmente interessante pela condição do flutuar.
Olhando para as obras fiquei
me perguntando: Será que essa casa pousou onde queria? Encontrou o que
procurava? Quem mora lá dentro? Eu? Você? A Arte?
Pense aí.
Leonardo Santos Garcia é acadêmico do curso de Artes Visuais da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi produzido como trabalho
da disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael
Maldonado.