sábado, 14 de dezembro de 2013

Texto de Nathaly G. Tenório sobre a exposição Admirável Mundo Novo, de Lula Ricardi, apresentada no Museu de Arte Contemporânea de MS de agosto a outubro de 2013.

Lula Ricardi, fotografia, 2013


   O quão filhos do sistema nós somos? Lula Ricardi nos joga essa questão como quem joga um lenço á brisa, esperando que o mesmo vá, porém nunca se perca.  Nesta temporada, em exibição no MARCO, se encontra  a exposição de Lula, denominada: ‘’ Admirável Mundo Novo’’.
     O artista define sua obra como ‘futurista e desumanizada’, de modo que se pareça com os dias atuais. Composta por cabeças de bonecas em diversas situações é possível observar tal sentido enquanto absorvemos o contexto que nós mesmos construímos, padronizado e inundado de regras.
     A visão de sociedade que temos é manipulada. Mas evitamos perceber isso, pois nos é confortável conviver em uma determinada harmonia regrada, pautada numa segurança invisível que nos consome, enquanto definhamos. Lula usou bonecas para suas obras, o que em minha concepção, é uma metáfora que se remete justamente á nossa semelhança enquanto humanos, nossa semelhança enquanto componentes do sistema. 
    Quando enfileira as cabeças de bonecas e as suspende por linhas, está apontando para a capacidade de sucumbir, a capacidade de engolir o que nos é dado, sem ao menos mastigar. Em outro momento, e dessa vez trabalhando com fotografia, Lula espeta as cabeças num cenário de açougue, demonstrando que estamos propensos ao que nos é dado, que somos tão inclinados ao comum que mesmo em uma situação degradante, optamos sempre em aceitar a condição.
     Fazendo alusão ás técnicas que foram utilizadas pelo artista, tenho em vista que foram bem elaboradas, e que fazem um encaixe interessante com a obra. Desde imagens manipuladas no computador, que usando simples efeitos conferiram uma poética autônoma á obra, até a aplicação de pedaços de cabeças de bonecas em uma estante, para que seja observada com atenção.
     O tema é comum, porém trabalhado de um jeito inerente á expectativa, nos ajuda á conferir para Lula um atributo de artista, afinal, fazer arte é também distorcer o contexto sutilmente (ou não) para que se perceba a metáfora íntima do que em geral, deixa-se passar batido.



Nathaly G. Tenório é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi produzido como trabalho da disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael Maldonado.
 

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