sábado, 14 de dezembro de 2013

Texto de Amanda Mamede sobre a exposição Exposição Admirável Mundo Novo, de Lula Ricardi, apresentada no Museu de Arte Contemporânea de MS no segundo semestre de 2013

detalhe da instalação de Lula Ricardi, exposta no MARCO em 2013



A mostra Admirável Mundo Novo, do artista gráfico e fotógrafo Lula Ricardi, em exposição no Museu de Arte Contemporânea de MS me chamou atenção exatamente devido aos paralelos que foram sendo realizados, automaticamente, com a obra homônima, de Aldous Huxley. Admirável Mundo Novo é um livro de 1931, onde, já no século passado, o autor pressentiu o que iria ocorrer com os padrões da sociedade do futuro.
No livro, é detalhado o funcionamento de uma sociedade divida em castas, onde todas as pessoas são criadas em laboratório e condicionadas a pertencer à determinada classe. Essas pessoas “aceitam” sua forma de vida e são pressionadas a se sentirem felizes com isso, através do inicial condicionamento no laboratório no momento de sua criação e ao contínuo fornecimento de um tipo de droga pelo governo, a qual constantemente reforçava a ideia de uma vida feliz e natural.
Logo na entrada da sala de exposições, nos deparamos com centenas de cabeças de bonecas penduradas por fios caindo do teto, algo que nos transmitia uma ideia de massificação, perda de um equilíbrio humanista, desvalorização da condição humana, mais especificamente. Assunto que se faz presente no livro em que a mostra foi inspirada. Nessa linha de pensamento, ainda vemos uma fotografia de várias dessas cabeças de bonecas alinhadas em espetos dentro de um forno elétrico, como uma carne disponível à venda. Corpos produzidos em massa (como os dos laboratórios no livro), jogados ao consumo do restante da sociedade.
            Outros modos de expressar a desvalorização dos valores naturais e humanistas – fotografias de cabeças de bonecas jogadas ao chão, amassadas, quebradas, destruídas. Uma instalação com as mesmas cabeças de bonecas penduradas dentro de um suporte, juntamente com pedaços de carne, mostra a contradição dessa massificação, do sentido da vida e do rumo que ela toma, ou como é vivida, uma vez que todos, na morte, tornam-se idênticos, sem distinção das classes, ideologias, cor, raça. Nos tornamos apenas matéria decomposta, como o artista se refere. Pedacinhos quebrados dessas bonecas dentro de uma gaveta abaixo das cabeças inteiras e dos pedaços de carne mostram a completa homogeneidade do estado encontrado no desconhecido da morte.
            Um conjunto de quadros alinhados e próximos, com rostos estilizados e, de alguma forma com olhos tampados, me remete às divisões das classes. Por que a forma de todos os rostos é idêntica, porém, os elementos acrescidos em cada um são completamente diferentes, por exemplo, cabelos, chapéus, óculos, plano em que estão posicionados etc.
            Constituída de quatorze fotografias, vinte e seis gravuras e três instalações, a obra de Ricardi, como o próprio mencionou, busca abstrair a realidade da sociedade massificada e padronizada, criar uma ponte abstrata do que Huxley retratou, no século passado, e o que está ocorrendo no momento, na atual sociedade.

 

Amanda Mamede é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi produzido como trabalho da disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael Maldonado.

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